domingo, 19 de dezembro de 2010

afectuosamente 1/12/2010


No dia da restauração da independência levei a Memória de Elefante a passear, um passeio que a iria aumentar, torná-la, quem sabe, única, um passei que iria garantir-lhe mais palavras. Fomos, os dois, ver a pessoa que escreveu essas memórias, o António Lobo Antunes.
A sessão de autógrafos era no El Corte Inglés, por volta das 18. Dirigimo-nos para a secção dos livros e já se compunha uma longa fila, com cerca de uma hora de comprimento, mais atraso menos atraso. A fila falava por ela mesma, tinha várias vozes, opiniões e discursos...eu apenas ouvia o que podia. A maioria das conversas centrava-se nos livros do escritor português, na sua vida e só depois a outros escritores e livros. Lembro-me de ter ouvido Agora que Saramago morreu as pessoas já se lembram do António Lobo Antunes. Não sei se um sentimento de revolta ou a constatação de um facto, mas a verdade é que estas palavras soaram mais alto, como quando dizemos algo embaraçoso e toda a gente se cala súbita e propositadamente.
Mais à frente, já o Lobo uivava tinta nas primeiras páginas de cada livro, ouvi É daquela cabeça que vêm todos os pensamentos e todas as palavras que preenchem todos os livros, é incrível olhar para uma pessoa e pensar que tudo saiu dali, toda aquela imaginação! E eu que nunca suspeitaria de tal coisa, vejo os escritores como mensageiros, como a pessoa que segura a caneta e deixa que as palavras se escrevam, que as personagens nasçam e vivam, como a pessoa que cita os pensamentos mais confusos...Sempre pensei que um livro se deixa escrever, como a nossa vida se deixa viver. Deve ter sido por isso que não me senti emocionado ao ver o António Lobo Antunes escrever em algo meu e também seu, mas agora, depois da digestão, abrir as páginas do nosso livro e ver que as palavras se escreveram para mim é algo de especial.
Na minha vez não houve grande conversa, ele não comentou que o meu nome era semelhante ao de um familiar ou amigo nem me convidou para almoçar e mostrar algumas coisas que tinha escrito (como com o individuo que estava à minha frente). Permaneci calado, apenas lhe disse o meu nome para que a caneta o pudesse escrever, agradeci e apertei-lhe a mão nervoso, mesmo sabendo que não me iria desiludir com um aperto de mão solto, afinal de contas é preciso apertar bem a caneta para esta escrever coisas tão belas.





2 comentários:

joao amorim disse...

li um livro desse senhor, o Arquipélago da Insónia. estou ansioso por ler outro, qualquer que seja.,

cumps

Johnny disse...

Gosto dele, também gostava do saramago... do que escreviam, principalmente, e por isso tento não pensar muito nas pessoas que são/seriam.